domingo, 31 de agosto de 2008

Sou 68 e é proibido proibir!

Fui contestador na França, fui revolucionário em Praga, fui pacifista nos EUA, fui agitador no Brasil, mas fui, antes de tudo, um sonhador. Sonhei um mundo de paz e amor ao som dos Beatles e dos Rolling Stones. Sonhei com a possibilidade de uma sociedade mais igualitária para todos nós com o busto do Che Guevara em sua praça. Se não realizei todos os sonhos, foi porque sonhar muito é assim: não dá tempo para pôr tudo em prática.
Enfim, sei que influenciei as gerações que me seguiram e ainda lutamos juntos pela liberação feminina, pela afirmação do negro, pela liberdade de opção sexual, pela preservação do meio ambiente.
E se digo ainda é porque tenho 40 anos hoje. Sou, então, um jovem senhor cheio de vida e, graças a mim, já podemos confiar nas pessoas com mais de 30 anos. Afinal, muitas deram à vida por suas causas, sofreram torturas monstruosas e não se arrependeram. Estão por aí tentando fazer um pouquinho aqui, um pouquinho ali. Ah! Já sei! Vocês também podem dizer que muitos se renderam e, em vez de propor mudanças, mudaram. É verdade, mas deixemos esses de lado! Não merecem aqui muita atenção.
Como é bom poder assistir uma mulher atuar na política, na indústria, no mercado financeiro e em tantos outros espaços tão masculinos, tão... Como é bom saber que garantimos uma delegacia para mulheres! Proteção importante num país de desigualdades econômicas e tão machista conseqüentemente.
Como é fascinante discutir a política de cotas para negros nas universidades tão abertamente! Somos uma nação predominantemente negra e ainda tão ideologicamente branca, mas conquistamos o direito de discutir amplamente a questão.
Como é instigante constatar que, na última parada gay em São Paulo, estiveram presentes 3,5 milhões de participantes! Aceitar as diferenças, entender as diversidades, compreender que o outro é, sim, outro e não nós mesmos.
E como é irresistível não se emocionar com a adolescente que economiza água, porque aprendeu que é necessário poupar a natureza! Ela já sabe que preservar o planeta é também uma questão de atitude individual e depende de nós e de nossos hábitos.
Era proibido proibir, já dizia Caetano Veloso, e continua sendo. Isso é uma vitória! Se o busto do Che Guevara não foi erguido na praça e se sua imagem virou produto e foi consumido ainda no século XX, não tenho culpa. Eu tentei, sonhei que podia ser diferente. Tenho certeza que fiz mais do que muitos anos que já se passaram.

Esse texto foi publicado numa revista(junho de 2008) que alguns alunos da Comunicação(3º período) fizeram como trabalho experimental e, a pedido deles, escrevi sobre o assunto. Queriam uma crônica e, como já estava na mídia a discussão sobre 68, resolvi escrever sobre o assunto.

2 comentários:

Unknown disse...

Oi Bia. Tudo bem com 68. Foi um ano inesquecível e importante. Mas prefiro 69...rs
Bj,
Luiz Cláudio

Renatinha disse...

o tema Mudanças é o que eu chamo de controverso. agrada algumas geraçõs, afeta profundamente outras, positiva ou negativamente. devemos sim usar o exemplo ativista para fazer sempre mudanças positivas. aproveitando a onda verde que assola nosso país!!!!


Bia, adoro você senhorita.
No meu blog estou com uma campanha do voto nulo. espalha ai! rs