segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Saindo de 68

Erotismo e violência: ingredientes perfeitos para uma trama policial

O Luiz tem razão: vamos parar de falar em 68 e partir para outras “praias”. Hi! Hi! Hi! Afinal, um pouquinho de sacanagem não faz mal a ninguém...

Outro dia, ao assistir a um debate na TV, fiquei indignada com um articulista da Revista Veja que disse em alto e bom som que no Brasil não existia literatura policial. Peraí!!!

Foi o bastante para eu mostrar minha indignação durante aquela semana em toda sala de aula e, ao elencar nomes como Rubem Fonseca, Patrícia Melo, Luiz Alfredo Garcia-Roza e outros, muitos me olhavam assustados por não conhecê-los. Então, é melhor começar por etapas....

Primeiro: Rubem Fonseca, mestre dos mestres, com formação diversificada e complexa, publica desde 63. A maioria livros de contos, Lúcia McCartney (meu primeiro contato com sua obra), A Grande Arte (fantástico!!!), Bufo & Spallanzani (perfeito!), Agosto, O Selvagem da Ópera, Secreções, Excreções e Desatinos, Diário de um fescenino (vocês sabem o que é isso?) e outros tantos.

E o camarada ainda diz que não se faz literatura policial no Brasil? Só um idiota mesmo! Qualquer um que passear um pouco no google encontra diversos prêmios que esse renomado escritor já recebeu no Brasil e no exterior por sua obra. Mas.... já dizia Nelson Rodrigues “Não sabemos valorizar o que temos”.

Por outro lado, ainda que eu o “carimbe” de escritor policial para responder ao tal jornalista, não posso deixar de registrar em tudo que já li dele um estilo que foge ao padrão/modelo e, por isso mesmo, é bem mais interessante, mais “pensante” vamos dizer assim. Nesse mundo, em que a ética e a moral andam desaparecidas, os crimes são só banalidades e servem ao escritor apenas como pretexto para revelar suas críticas à sociedade. Seus investigadores não são Sherlock Holmes, são homens comuns, cheios de defeitos e complexidades.

Em Secreções, Excreções e Desatinos (prêmio Camões 2003), sexo, violência e exclusão social continuam abordados. No entanto, o que vai marcar essa obra são os diferentes protagonistas sempre envoltos com gostos estranhos, asquerosos mesmo, mas que tematizam a busca do indivíduo em conhecer o próprio corpo.

Chamou-me especial atenção o conto “Copromancia” que ironiza essa busca incessante do homem pelo autoconhecimento e que o faz acreditar em quiromantes, cartomantes e outros ‘mantes’ mais. E agora mais ainda, pois em Jonas, O Copromanta, a escritora Patrícia Melo cria o Rubem Fonseca personagem, acusado de plagiar o trabalho/estudo de Jonas (personagem principal). É esse o livro que leio no momento. E está ótimo!

Já está na hora de nos transformarmos em Beija-Flores

Segundo o Banco Mundial, o nível de corrupção no Brasil é o pior em dez anos. De acordo com esse levantamento, o índice é o pior desde que o BIRD começou a fazer esse estudo.
Alarmantes dados? Claro! Não queremos um país com essa cara. Também nem precisamos de tais números para constatar que, no Brasil, a corrupção incomoda a todos. Ela está presente em inúmeras denúncias todos os dias nos jornais. Isso quando a própria imprensa não está envolvida. Devemos mesmo combatê-la. Mas a pergunta necessária é: o que podemos fazer para melhorar a situação?
Se, por um lado, temos muitas pessoas públicas ou cidadãos comuns envolvidos em corrupção, por outro temos exemplos de honestidade, ética, grandes gestos de compromisso com o outro tanto de celebridades como de anônimos. Betinho (o irmão do Henfil) foi um belo exemplo.
Vitimado pela AIDS (era hemofílico), o sociólogo correu o Brasil com a Campanha contra a Fome e a ilustrava com uma pequena fábula em que narrava o diálogo entre um beija-flor e um leão diante de um grande incêndio numa floresta. Na história, o Beija-flor tentava com um pouco de água no bico apagar o fogo que se alastrava violentamente e o Leão lhe perguntou se acreditava que assim conseguiria apagar o imenso incêndio. E o pássaro apenas respondeu que estava fazendo a sua parte.
Volto agora à questão posta em debate. Fazemos a nossa parte quando o propósito é acabar com a corrupção? Afinal, furar filas, parar em fila dupla, dar uma “cervejinha” pro guarda não são atos ilícitos? E a cola? O que é a cola senão um pequeno furto de idéias alheias? O lugar comum – “quem não cola não sai da escola” – parece justificar essa atitude tão comum nas nossas escolas e universidades. E o trabalho que copio e colo da internet e muitas vezes nem me dou o trabalho de ler? É pegar o texto de outra pessoa e colocar meu nome. Isso também não é desonesto? Existe ética nesse tipo de atitude?
Parece-me um bom começo para pensar a questão, não? É preciso o trabalho de vários beija-flores, o Betinho estava certo. Temos de fazer nossa parte. Caso contrário, dificilmente conseguiremos combater os índices de corrupção revelados pelo Banco Mundial.


Beatriz Pacheco - Texto originalmente escrito para a revista Conhecimento Inútil - períodico experimental do 2º e 4º períodos de Comunicação UBM.